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Marcela Cantuária desenvolve uma série de trabalhos que se desdobram sobre pequenos oratórios, estruturas de canalização de anseios que materializam a urgência das memórias insurgentes. O uso do oratório possui implicações simbólicas diversas, as quais consideram o mundo do misticismo e da fé como eixo de interesse de ampliação de imaginários frente às premissas modernas e progressistas. Aludindo também a teia cultural onde as representações de mulheres beatificadas passam a dar lugar às narrativas de mulheres heroínas e combatentes do patriarcado e do capital. Essa nova série dá continuidade à conjuração de um reordenamento social e místico, apoiado em discursos políticos anti-sistêmicos que se desdobram em estratégias de rememoração. O oratório, mais do que outro suporte, agora serve como um pequeno monumento em prol da memória combatente, oferecendo uma centelha de esperança para as lutas que ocorrem nos territórios latino-americanos, realidade transtemporal, ampliando assim, através da produção contemporânea, suas preces por emancipação. 

Texto do curador Aldones Nino

 

Marcela Cantuária develops a series of works that unfold on small oratories, structures for channeling desires that materialize the urgency of insurgent memories. The use of the oratory has several symbolic implications, which consider the world of mysticism and faith as an axis of interest in expanding imaginaries in light of modern and progressive premises. Also alluding to the cultural web where representations of beatified women are replaced by narratives of women heroes and combatants of patriarchy and capital. This new series continues the conjuration of a social and mystical reordering, supported by anti-systemic political discourses that unfold in remembrance strategies. The oratory, more than another support, now serves as a small monument in favor of combatant memory, offering a spark of hope for the struggles taking place in Latin American territories, a transtemporal reality, thus expanding, through contemporary production, its prayers by emancipation.

Text by Aldones Nino, curator

Sobre os oratórios

Âncora 1

A Lua, 2023

A Lua habita entre a visão da Estrela (Arcano XVII) e a realização do Sol (Arcano XIX). O Arcano XVIII está ligado ao Arcano IX, não apenas através da numerologia (1 + 8 = 9). O caminho da Lua na Árvore da Vida conecta a esfera da emoção e dos instintos de Netzach à materialização da vida, à base da árvore, Malkuth. A Lua transforma Vênus em sangue e fala do útero, aquele receptáculo mágico que também temos dentro de nós, o portal da vida. Quando somos gerados ainda não temos consciência própria, respiramos no corpo do outro, em sono profundo. Lá nos desenvolvemos até estarmos prontos para a luz. A lua é gestação – da ideia, das percepções, da vida.

 

The Moon dwells between the vision of the Star (Arcanum XVII) and the realization of the Sun (Arcanum XIX). Arcanum XVIII is connected to Arcanum IX, not only through numerology (1 + 8 = 9). The path of The Moon on the Tree of Life connects the sphere of Netzach emotion and instincts to the materialization of life, to the base of the tree, Malkuth. The Moon turns Venus into blood and speaks of the womb, that magical receptacle that we also have within us, the portal of life. When we are generated, we still don't have our own conscience, we breathe in the body of another, in deep sleep. There we develop until we are ready for the light. The moon is gestation - of the idea, of perceptions, of life.

Anima, 2023

Inspirada pela Estrela do tarot e em sua dimensão cósmica, Anima apresenta asas que se confundem com as mãos, além da cabeça do peixe e de velas, para abordar um momento no qual a esperança se sobrepõe ao desespero. Anima constitui uma espécie de altar e evidencia como o fazer artístico possibilita a formalização de nossos sonhos. Trata-se, portanto, de uma busca pela espiritualidade realizada através da arte.

 

Inspired by the Tarot Star and in its cosmic dimension, Anima presents wings that merge with hands, as well as the head of the fish and candles, to address a moment in which hope overlaps despair. Anima constitutes a kind of altar and highlights how artistic creation enables the formalization of our dreams. It is, therefore, a search for spirituality carried out through art.

Âncora 2

A Partenogênese, 2023

Dando continuidade à pesquisa desenvolvida em Mátria Livre, o oratório cria uma espécie de altar com um objeto de cerâmica em seu interior para apresentar a emancipação de mulheres aliada à magia. Partenogênese é a autofecundação, portanto a figura central deste oratório é uma mulher gestante com duas cabeças. Trata-se de uma obra que justapõe elementos de emancipação popular zapatistas e arquétipos do tarot: o sol faz-se presente e as crianças indiciam o encontro de diferentes temporalidades, como se elas fossem os frutos dessa gravidez, apontando assim a possibilidade de criação de outros mundos.

 

Continuing the research developed in Mátria Livre, the oratory creates a type of altar with a ceramic object inside to present the emancipation of women combined with magic. Partenogênese is self-fertilization, therefore the central figure of this oratory is a pregnant woman with two heads. It is a work that juxtaposes elements of Zapatista popular emancipation and tarot archetypes: the sun is present and the children indicate the encounter of different temporalities, as if they were the fruits of this pregnancy, thus pointing out the possibility of creating other worlds.

Âncora 3

Serpentária, 2023

De acordo com a curadora Inês Valle, Serpentária consiste em um oratório habitado por uma quimera, uma figura híbrida que combina características de mulher, serpente e loba. Esta figura pode ser interpretada como um oráculo, uma entidade que detém conhecimento e sabedoria transcendental. O santuário-museu, onde esta quimera vive, é um espaço sagrado, que ostenta um espelho que reflete e multiplica tanto a presença da quimera, como as inúmeras micro-pinturas de seres metamórficos que adornam-no, criando um ambiente místico. Simultaneamente, ao abrir-nos as portas do seu santuário, somos convidados a para um mundo de transformação e autodescoberta, onde esta torna-se uma guia para explorarmos suas questões centrais: luta, liberdade e independência.

 

According to the curator Inês Valle, Serpentária consists of an oratory inhabited by a chimera, a hybrid figure combining the characteristics of a woman, a serpent, and a she-wolf. This figure can be interpreted as an oracle, an entity that possesses transcendental knowledge and wisdom. The sanctuary-museum where this chimera resides is a sacred space, adorned with a mirror that reflects and multiplies both the presence of the chimera and the numerous micro-paintings of metamorphic beings, creating a mystical environment. Simultaneously, as she opens the doors to her sanctuary, we are invited into a world of transformation and self-discovery, where she becomes a guide to help us explore its central themes: struggle, freedom and independence.

Âncora 4

Claudia Jones, 2020

“A arte de um povo é a gênese de sua liberdade”. Esse foi o slogan que Claudia Jones, a mãe do carnaval de Notting Hill, na Grã-Bretanha, criou para celebrar a cultura dos afro-caribenhos, asiáticos e não-brancos. Nascida em Trinidad e Tobago, ela migrou ainda criança, ao lado de sua família, para os EUA. Aos 18 anos, Claudia Vera Cumberbatch tornou-se ativista política e nacionalista negra, adotando o codinome Jones como tática de autoproteção. Como toda boa ativista comunista nos EUA, foi deportada em 1955 e, posteriormente, exilou-se no Reino Unido, onde fundou, em 1958, o primeiro grande jornal negro da nação: The West Indian Gazette, o qual tinha como mote a luta contra o imperialismo e o racismo. As revoltas raciais despertadas pela circulação do jornal foram fundamentais para manter a temperatura dos indignados altíssima. Seu texto mais conhecido é Um fim para a negligência com os problemas da mulher negra!, uma análise interseccional dentro de um escopo marxista. Claudia morreu devido a problemas respiratórios aos 49 anos e foi sepultada ao lado esquerdo de Karl Marx, no Cemitério de Highgate.

 

“A people's art is the genesis of their freedom”. That was the slogan that Claudia Jones, the mother of Notting Hill Carnival, in Great Britain, created to celebrate the culture of Afro-Caribbeans, Asians and non-whites. Born in Trinidad and Tobago, she migrated to the USA as a child, along with her family. At age 18, Claudia Vera Cumberbatch became a political activist and black nationalist, adopting the codename Jones as a self-protective tactic. Like every good communist activist in the US, she was deported in 1955 and later went into exile in the United Kingdom, where she founded, in 1958, the first major black newspaper in the nation: The West Indian Gazette, which had as its motto the fight against imperialism and racism. The racial revolts aroused by the circulation of the newspaper were essential to keep the temperature of the outraged extremely high. Her best-known text is An end to the neglect of the problems of the Negro woman!, an intersectional analysis within a marxist scope. Claudia passed away at the age of 49 due to respiratory problems and was buried next to Karl Marx, in Highgate Cemetery.

Âncora 5

Comandanta Ramona tecedora de Sonhos, 2020

Uma das principais lideranças do Exército Zapatista pela Libertação Nacional (EZLN), sua vida e luta girou em torno da libertação das mulheres, camponeses, indígenas e trabalhadores. No sul do México, em Chiapas, Ramona escreveu em tzotzil a Lei Revolucionária de Mulheres, a qual foi traduzida para inúmeros idiomas. Em português: 

1. As mulheres, independentemente de sua raça, credo, cor ou filiação política, têm o direito de participar da luta revolucionária no lugar e grau que sua vontade e capacidade determinarem.

2. As mulheres têm o direito de trabalhar e receber um salário justo.

3. As mulheres têm o direito de decidir o número de filhos que podem ter e cuidar.

4. As mulheres têm o direito de participar nos assuntos da comunidade e ocupar cargos se forem eleitas livre e democraticamente.

4. As mulheres e seus filhos têm direito aos ATENDIMENTOS PRIMÁRIOS em sua saúde e nutrição.

6. As mulheres têm direito à educação.

7. As mulheres têm o direito de escolher o seu companheiro e de não serem forçadas a casar.

8. Nenhuma mulher pode ser espancada ou maltratada fisicamente por parentes ou estranhos. Os crimes de tentativa de estupro ou estupro serão severamente punidos.

9. As mulheres podem ocupar cargos de direção na organização e ter patentes militares nas forças armadas revolucionárias.

10. As mulheres terão todos os direitos e obrigações estabelecidas pelas leis e regulamentos revolucionários (EZLN, 1993).

Ramona faleceu, em 2006, devido a um problema de insuficiência renal. 

 

One of the main leaders of the Zapatista Army for National Liberation (EZLN), her life and struggle revolved around the liberation of women, peasants, indigenous peoples and workers. In southern Mexico, in Chiapas, Ramona wrote the Women's Revolutionary Law in Tzotzil, which has been translated into numerous languages. In English:

1. Women, regardless of their race, creed, color or political affiliation, have the right to participate in the revolutionary struggle in any way that their desire and capacity determine.

2. Women have the right to work and receive a just salary.

3. Women have the right to decide the number of children they have and care for.

4. Women have the right to participate in the matters of the community and have charge if they are free and democratically elected.

5. Women and their children have the right to Primary Attention in their health and nutrition.

6. Women have the right to education.

7. Women have the right to choose their partner and are not obliged to enter into marriage.

8. Women have the right to be free of violence from both relatives and strangers. Rape and attempted rape will be severely punished.

9. Women will be able to occupy positions of leadership in the organization and hold military ranks in the revolutionary armed forces.

10.Women will have all the rights and obligations which the revolutionary laws and regulations give (EZLN, 1993).

Ramona died in 2006 due to kidney failure.

Âncora 6
Âncora 7

Dorcelina Folador, 2020

Dorcelina Folador foi professora, poeta e artista plástica. Em 1989, engajou-se na luta pela terra no Estado do Mato Grosso do Sul, integrando a direção estadual do MST. Também ajudou a fundar a Associação Mundonovense dos Portadores de Deficiência Física (AMPDF). Sem Terra e prefeita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de Mundo Novo (MS), na época com 36 anos, Dorcelina foi assassinada ao levar seis tiros nas costas, no dia 30 de outubro de 1999, na varanda de sua casa. Seu homicídio foi encomendado pelo então Secretário da Fazenda de Mundo Novo, Jusmar Martins da Silva. Ele foi acusado de contratar o pistoleiro Getúlio Machado, que confessou o crime e disse que receberia 35 mil reais pelo assassinato da prefeita. Nas palavras do presidente Lula: “Gostaria que o PT tivesse mais gente com o caráter e com a garra da Dorcelina Folador. Mais do que uma prefeita, ela era uma guerreira em defesa das causas do povo oprimido desse país. Uma referência de mulher, de política e de militante”.

 

Dorcelina Folador was a teacher, poet and artist. In 1989, she joined the struggle for land in the state of Mato Grosso do Sul, taking part of the state leadership of the MST. She also helped to found the Mundonovense Association of Physically Disabled People (AMPDF). Landless and mayor of Mundo Novo (MS) for the Workers' Party (PT), at the time 36 years old, Dorcelina was murdered when she was shot six times in the back, on October 30, 1999, on the porch of her house. Her homicide was ordered by the then Finance Secretary of Mundo Novo, Jusmar Martins da Silva. He was accused of hiring the gunman Getúlio Machado, who confessed the crime and said he would receive 35 thousand reais for the murder of the mayor. In the words of President Lula: “I would like the PT to have more people with the character and drive of Dorcelina Folador. More than a mayor, she was a warrior in defense of the causes of the oppressed people of that country. A reference for women, politics and militants”.

Âncora 8

Filhas do Sol, 2020

A Brigada Feminina Curda (YPJ) é a maior frente de heroica resistencia contra os fundamentalistas do Estado Islâmico pelo disputa do território curdo. Nem os bombardeios ianques causam tanto temor nos jihadistas do EI quanto as balas das combatentes curdas, tendo em vista que eles acreditam que caem em maldição e vão para o inferno caso sejam mortos por uma mulher. Curdistão é um país que nunca obteve reconhecimento como Estado e ocupa uma vasta região montanhosa correspondente ao sistema de cordilheiras Zagros – taurus, que contempla aquíferos e planícies férteis entre os rios tigres e Eufrates – terreno dos primeiros assentamentos humanos que se sedentarizaram com o nascimento da agricultura. A palavra curdo quer dizer “ povo da montanha” e designa um grupo étnico, linguístico e sua cultura. A identidade curda, nesse contexto, foi negada e suas práticas culturais, proibidas. Desde então, a população curda tem historicamente passado por processos de assimilação e, sobretudo, sido alvo de genocídios. A população de Rojava, no início de 2015, tinha um pouco mais de 2,5 milhões de habitantes. Em 2016, ela foi reduzida a 400 mil habitantes. Nas palavras da combatente Narin Afrin, de 40 anos, “ vamos lutar até a última bala para proteger os civis. É uma luta por todos nós, uma luta pela liberdade”.

 

The Kurdish Women's Brigade (YPJ) is the largest front of heroic resistance against the fundamentalists of the Islamic State over the dispute over Kurdish territory. Not even the Yankee bombings cause as much fear in IS jihadists as the bullets of Kurdish fighters, given that they believe they fall under a curse and go to hell if they are killed by a woman. Kurdistan is a country that has never been recognized as a State and occupies a vast mountainous region corresponding to the Zagros – Taurus mountain range system, which includes aquifers and fertile plains between the Tigris and Euphrates rivers – land of the first human settlements that became sedentary with the birth of agricultural. The word Kurdish means “people of the mountain” and designates an ethnic, linguistic group and its culture. Kurdish identity, in this context, was denied and its cultural practices, prohibited. Since then, Kurdish population has historically gone through processes of assimilation and, above all, has been the target of genocide. The population of Rojava, at the beginning of 2015, was just over 2.5 million inhabitants. In 2016, it was reduced to 400 thousand inhabitants. In the words of 40-year-old fighter Narin Afrin, “We will fight to the last bullet to protect civilians. It is a fight for all of us, a fight for freedom”.

Âncora 9

Juana Ramirez y Juana Raymundo, 2020

Juana Ramirez y Juana Raymundo foram militantes do CODECA (Comitê de Desenvolvimento Campesino) e do MLP (Movimento de Libertação para os Povos). Juana Ramirez (à esquerda) foi fundadora da rede de direitos das mulheres Ixiles de Nebaj na Guatemala, parteira e mãe de sete filhos. Havia recebido ameaças de morte que foram denunciadas ao Ministério Público. Juana é a terceira liderança indígena assassinada na área durante 2018, aos 56 anos. Agora em 2020, o filme se repete com Juana Raymundo. Enfermeira, líder comunitária Ixil de Nebaj, responsável pela formação política de jovens na organização CODECA. Com apenas 25 anos, foi encontrada morta por vizinhos perto de um pequeno rio entre Nebaj e Acabalam, apresentando sinais de tortura em seu corpo. Os militantes avaliam que a organização é uma “pedra no sapato ao banquete neoliberal e ao colonialismo estadunidense na Guatemala, com o MPL se convertendo numa ameaça política real frente aos crimes da oligarquia transnacional no país”.

 

Juana Ramirez y Juana Raymundo were militants of CODECA (Peasant Development Committee) and MLP (Liberation Movement for the Peoples). Juana Ramirez (left) was founder of the women's rights network Ixiles de Nebaj in Guatemala, midwife and mother of seven children. She had received death threats that were reported to the Public Ministry. Juana is the third indigenous leader murdered in the area during 2018, aged 56. Now in 2020, the film repeats itself with Juana Raymundo. Nurse, community leader Ixil de Nebaj, responsible for political training of young people in the organization CODECA. At just 25 years old, she was found dead by neighbors near a small river between Nebaj and Acabalam, with signs of torture on her body. The militants assess that the organization is a “stone in the side of the neoliberal feast and US colonialism in Guatemala, with the MPL becoming a real political threat in the face of the crimes of the transnational oligarchy in the country”.

Âncora 10

Julietta Battistioli, 2021

Julieta Battistioli nasceu em Palmares do Sul, Rio Grande do Sul, em 1907. Filha de trabalhadores rurais, mudou-se ainda pequena para o bairro Navegantes, um reduto fabril e com um grande contingente do operariado porto-alegrense. Julieta tornou-se operária nas indústrias têxteis aos 13 anos, fato que a levou a abandonar os estudos. Militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi eleita vereadora suplente para a Iª Legislatura da Câmara pela legenda do Partido Social Progressista (PSP) em virtude da ilegalidade do seu real partido, tornando-se a primeira mulher a exercer a vereança em Porto Alegre. A militância ligada ao PCB ocasionou sua prisão em 1961, durante a Campanha da Legalidade, tendo sido levada, primeiramente, ao Departamento de Ordem Política e Social – DOPS e, em seguida, ao Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier. Após 1964, distanciou-se da política. Julieta foi uma mãe dedicada à filha única e também uma avó amorosa para as quatro netas, alfabetizando-as antes de entrarem para a escola. Morreu aos 89 anos, em 1996, dizendo-se operária e comunista. A imagem que inspirou a composição da frente do oratório é uma fotografia de Rose Zehner, trabalhadora da fábrica da Citroen, realizada por Willy Ronis em 1938.

 

Julieta Battistioli was born in Palmares do Sul, Rio Grande do Sul, in 1907. The daughter of rural workers, she moved to the Navegantes neighborhood, a factory stronghold with a large contingent of workers from Porto Alegre. Julieta became a worker in the textile industry at the age of 13, which led her to drop out of school. Militant of the Brazilian Communist Party (PCB), she was elected alternate councilor for the 1st Legislature of the Chamber by the Social Progressive Party (PSP) legend due to the illegality of her real party, becoming the first woman to exercise the councilorship in Porto Alegre. Militancy linked to the PCB led to her arrest in 1961, during the Campaign for Legality, having been taken, first, to the Department of Political and Social Order – DOPS, and then to the Madre Pelletier Women's State Prison. After 1964, she distanced herself from politics. Julieta was a dedicated mother to her only daughter and also a loving grandmother to her four granddaughters, teaching them to read and write before they went to school. She died at the age of 89, in 1996, claiming to be a worker and a communist. The image that inspired the composition on the front of the oratory is a photograph of Rose Zehner, a worker at the Citroen factory, taken by Willy Ronis in 1938.

Âncora 11

Larga vida a las mariposas, 2020

"Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte". Com esta frase, a ativista Minerva Mirabal, da República Dominicana, respondeu aos que a advertiram de que o regime ditatorial do general Rafael Leónidas Trujillo (1930–1961) iria matá-la, no início da década de 1960. O assassinato das irmãs Mirabal marcou o início do fim da ditadura mais longa da América Latina: conhecidas com o codinome Mariposas, elas eram mães e esposas vinculadas ao Movimento Revolucionário 14 de julho, que organizava estudantes, camponeses, operários, classe média, seminaristas e todos os adversários do regime. Pátria, a irmã mais velha, era pintora. Minerva, a irmã do meio, casou-se com Manuel Tavarez, membro fundador do M14J, e foi a primeira mulher a obter doutorado em Direito na República Dominicana. Maria Teresa, a caçula, foi para a prisão La Cuarenta, sofrendo toda a sorte de humilhação pelos policiais, incluindo choque elétrico nos seios. Depois de serem libertas, no dia 25 de novembro de 1960, voltando para casa após visitarem seus maridos presos políticos, elas foram surpreendidas na estrada. A ordem de execução das irmãs Borboletas já estava planejada. Um carro tirou as irmãs do jipe; elas foram levadas para uma casa e espancadas tão brutalmente que tiveram seus crânios partidos e seus úteros dilacerados pelos militares de Trujillo. Seus assassinos simularam um acidente de carro e colocaram as três, já sem vida, novamente no jipe. A reação revoltada do povo contribuiu para a última gota do copo: finalmente assassinaram o general, seis meses depois. Em homenagem às Mariposas, o dia 25 de novembro marca o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, data estabelecida no Primeiro Encontro Feminista Latino-americano e Caribenho celebrado na Colômbia, em 1981.

 

"If they kill me, I will raise my arms from the grave and I will be stronger". With this sentence, Dominican Republic activist Minerva Mirabal responded to those who warned her that the dictatorial regime of General Rafael Leónidas Trujillo (1930–1961) would kill her in the early 1960s. The murder of the Mirabal Sisters marked the beginning of the end of the longest dictatorship in Latin America: known by the codename Mariposas, they were mothers and wives linked to the 14th of July Revolutionary Movement, which organized students, peasants, workers, the middle class, seminarians and all opponents of the regime. Patria, the older sister, was a painter. Minerva, the middle sister, married Manuel Tavarez, a founding member of M14J, and was the first woman to earn a doctorate in law in the Dominican Republic. Maria Teresa, the youngest, went to La Cuarenta prison, suffering all sorts of humiliation by the police, including electric shocks to her breasts. After being released on November 25th, 1960, returning home after visiting their husbands as political prisoners, they were surprised on the road. The execution order of the Butterflies sisters was already planned. A car pulled the sisters out of the jeep; they were taken to a house and beaten so brutally that they had their skulls cracked and their wombs torn apart by Trujillo's military. Their killers simulated a car accident and put the three, already lifeless, back in the jeep. The revolted reaction of the people contributed to the last drop in the glass: they finally assassinated the general, six months later. In honor of the Mariposas, November 25th marks the International Day for Non-Violence Against Women, a date established at the First Latin American and Caribbean Feminist Meeting held in Colombia, in 1981.

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